domingo, 23 de janeiro de 2011

João de Azevedo,(João Donato) e Pedro Soares / pintura,cerâmica e fotografia

A Galeria Paula Cabral/Café dos Artistas

inaugura dia 3 de Fevereiro pelas 19:00

3 Exposições individuais de Timor a Lisboa, passando por Londres,

com os trabalhos dos seguintes Artistas Plásticos:



“O SOM DOS CROCODILOS”

Pintura de JOÃO DE AZEVEDO



VISTA PARCIAL DA VIA LÁCTEA E OUTROS FRAGMENTOS”

Cerâmica e Instalação de JOÃO DONATO

(ESTA MOSTRA DE MOMENTO ESTÁ SUSPENSA

POR MOTIVOS ALHEIOS À NOSSA VONTADE)



“LISBOA REVISITADA"

Fotografia de PEDRO SOARES




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as obras e os percursos



JOÃO DE AZEVEDO EM TIMOR-LESTE


ALGUMA APRESENTAÇÃO DOS CROCODILOS


+DILI 38



Dili, Março 2006
1. Estive em Timor-Leste dois anos, desde Fevereiro 2005. Estas pinturas são feitas com tintas acrílicas, sobre papel Fabriano de algodão 600- 850 gr. A maior parte tem medidas aprox. 59 X 76 cm; os outros, em geral, metade.
2.


Este é o meu cartão de visita mais antigo, de 1975. Nasci em 1950 e tinha então 25 anos, quando deixei de pintar. Deixei de o fazer quando fui de Itália para Portugal, onde passei a fazer outras coisas. Isso passava-se numa altura em que era fácil acreditar na revolução; esta capa de disco é a prova disso, feita a convite do Zeca.
3. Porém, em Itália fui pintor activo, entre 72 e 75; fiz duas exposições individuais e participei em várias colectivas (em Itália e fora dela). Parei de pintar porque me parecia desajustado, pessoalmente, fazer coisas para as pessoas com dinheiro comprarem. Tive uma espécie de vergonha, hesitação maior, pouca autoconfiança. Queria mudar de vida, mas não sabia bem para qual vida mudar. Ia com as coisas, mas sempre acompanhado pelos pincéis, que ficavam numa caixa fechada.
4. Desde então, tenho andado a fazer outras coisas; principalmente tenho andado a participar, desde 1977, em actividades do (mau) desenvolvimento. Entre elas: 9 anos nas nações unidas, agora consultor independente, em África e Ásia, desde 2001.
5. Com o mais recente regresso às pinturas, trata-se de fazer trabalho manual, em primeiro lugar. E fazer trabalhar as duas partes do cérebro, como alguns dizem. Passar por cima do determinismo que nos empurra para manifestarmos apenas uma pequena parte dos nossos talentos, usar apenas uma parte do nosso corpo, a escolher ou a cabeça ou as mãos, ou outra parte qualquer. Afinal já penso que pintar dá muito gozo; que o trabalho manual já vale outra vez, que é mesmo necessário. Penso que para o futuro é preciso fazer um trabalho mais integrado, mais holístico. O pouco que sabemos sobre nós próprios aponta para essa necessidade: reintegrar as nossas forças, os nossos lados emocionais, os nossos lados espirituais, o nosso interesse pelo ambiente. É hoje difícil para mim imaginar que alguém se possa desenvolver sem nada acrescentar à qualidade da vida dos outros. Este é o tipo de coisa para a qual é difícil imaginar como falar delas (cito, indirectamente, Boyatzis).
6. Timor e as minhas citações dos crocodilos. Mais ainda, cito, e paro aqui de citar, mas indirectamente, José Gil, citando Levy Strauss, porque de facto as sociedades primitivas não tinham os homens no centro do universo. A natureza e os outros seres vivos foram desvalorizados, “arrancando-lhes o homem para o colocar num lugar de eleição”. Esse desprezo do ambiente virá daí. Visto de Timor, e desta parte do mundo, isto ganhou-me para o lado dos crocodilos. Estes animais são aqui da máxima ambiguidade significante e de alta densidade histórica. As legendas (isto é, a história como é dita e acreditada pelas pessoas normais) são povoadas pelos crocodilos. Apesar de tentativas de normalização, eles continuam presentes no imaginário como parceiros dos sonhos e da vida real. Tomam várias cores, nessas narrativas, segundo as zonas, as ocasiões, as intenções, as testemunhas. As mulheres de certos povos mauberes não são mulheres senão à vista, porque mal voltas as costas, são crocodilos. Um rei de um outro povo deu a filha mais velha ao crocodilo, para ganhar a guerra. Outro rei, de outro povo ainda, fez um acordo com os crocodilos para deixar passar os seus soldados, afim de surpreender o inimigo invasor pela retaguarda. Os crocodilos não te atacam se estás tranquilo, se tens a “consciência em paz”. Antes de os indonésios desembarcarem, em 1975, tal coisa foi largamente anunciada por muitos crocodilos que apareceram na baía de Dili. Uma conhecida lenda conta que a ilha de Timor tem a forma de um crocodilo, depois de velho e morto e de ter sido companheiro de um rapaz, que lhe foi muito amigo (citação da pintura nº17). Há sempre uma narrativa segunda a qual “na semana passada” os crocodilos vieram e levaram 4, 5 ou 6 pessoas. Esses animais são a parte escondida e mágica do espírito. Têm do bom e têm do mau. Eu cito essas histórias, não para as ilustrar, mas porque procuro essa percepção, essa humanidade nesses animais.
7. Acrescento que o crocodilo aqui, como entre os aborígenes australianos (os últimos aristocratas, segundo Levy Strauss), e que eu visitei há alguns meses, é um animal sagrado (lulik), sendo considerado pelos timorenses como antepassado. Daí o nome de avô, bei-nai. É o senhor das águas, o we-nai. Segundo o mito de origem, é considerado o responsável pelo povoamento de Timor.
8. Esses animais existem e comem, de facto, pessoas, quando podem. Toda a região está infestada. Na costa norte da Austrália é absolutamente proibido tomar banho nas praias, de Novembro a Abril. Eles pululam na baía de Darwin, por exemplo. São os saltwater crocodiles (Crocodylus porosus), que atingem facilmente 4 metros (às vezes mais) de comprimento, são ultrarápidos no ataque e vivem entre a água doce e a salgada. Existem desde há talvez 200 milhões de anos, são dos mais velhos sobreviventes, são hoje espécies protegidas.
9. No meu caso e com eles, voltando aos pincéis depois de tantos anos, jogo com as cores, para espantar e seduzir os parceiros. Crocodilos homens e mulheres, e vice-versa, homens e mulheres crocodilos. Acasalamentos, pesadelos, combates; não ilustro nada, são citações de ocasiões que poderiam ter acontecido. Vou tendo algum feed back. Assim, uns velhos exclamam: “Até parece que o senhor joão estava lá!”.
10. O meu endereço, em Portugal, é: joao.de.azevedo@mail.telepac.pt





+DILI 20


Novas peregrinações

A globalização trouxe outros mundos ao mundo, desde sempre. Aumentando-o, gizando-o em novas direcções, abrindo novos planos, também e sobretudo imaginários, que antes lá não havia. E de cada vez a seu modo assim se fez e faz e tornará a fazer até que o tempo coincida absolutamente com o espaço.
Agora, que a globalização já não se faz com naus nem caravelas, mas com computadores e bolsas on-line capazes de alimentar a cobiça (madre-eterna) daqueles mais ansiosos do vão poder do mundo, e com as notícias em directo da TV, a outra peregrinação global, a do espírito, essa faz-se também ela de outro modo: onde antes, meio milênio atrás, o Fernão Mendes Pinto de gloriosa memória elocubrava as aventuras de uma descoberta maravilhada desse cruzamento incerto entre mito e história, hoje outros entendem, desentendem, sobre-entendem, numa epifania breve, as janelas que se abrem de repente sobre os planos mais incertos e caóticos do tempo, e o desdobram, mostrando-o em outras dobras, em outras convulsões, em outras configurações.
Assim João de Azevedo.
Longamente hipotecado a uma paixão aventureira que o levou aos trópicos, de Moçambique ao Niger e a Timor passando por tantos outros lugares, João trouxe, porque levava para tanto a intuição, notícia de outros mundos haver, para além da racionalidade estreita deste nosso em perpétuas crises, outros lugares onde o trágico coabita com o vulgar e o ordinário, paredes meias com o sonho, fazendo e desfazendo entre este e a chamada realidade. Uma realidade menos óbvia do que a nossa, já se vê. Onde os animais ainda e sempre falam.
E se nessas aventuras chegou a colaborar de perto, apaixonadamente, com o renascimento de nações, ou captar o essencial desse registo gráfico, quase diagramático, de uma visão outra do mundo, que depois igualmente sabe traduzir em longas e sábias conversas noite fora, em que descreve os mitos como se os houvera assistido desde o seu nascimento, é nos seus quadro de longa e paciente factura que mais os elabora, re-elabora, tornando-os pouco a pouco seus e nossos, através do seu sábio e sempre inocente olhar.
Já se vê que o crocodilo é um poderoso símbolo erótico. E que, como a todo símbolo, o melhor é não o afectar a uma única coisa, já que de muitas fala, e ao mesmo tempo. E já se vê que ele caminha veloz nestas pinturas, onde também a cor transporta a alegria das descobertas mais vastas do espaço e do tempo. Mas, humaníssimo, e não só por ser portador desses impulsos vitais, também ele o temível crocodilo é retrato e auto-retrato, mágico instrumento de uma soberana re-interpretação do mundo, deste e do outro, mensageiro subtil que se desloca entre os dois.
Os crocodilos de João de Azevedo, as suas ninfas, as suas cores quase puras, são outros tantos sinais cantantes de haver sempre mais mundos e contadores de histórias desses mundos, hoje como antes, há muito tempo atrás na peregrinação do outro. Porque perpétuo é o homem no seu sonho como na sua imperfeição.
São artes destas que tornam o mundo maior. E que no-lo trazem, paradoxalmente, até junto à porta.
Obrigado João.

Bernardo Pinto de Almeida
Janeiro 2011


+DILI 14



João Croco

Esta manhã encontrei umas cartas, religiosamente bem guardadas, do meu amigo João de Azevedo. Tinham sido enviadas de Roma, onde vivia nos anos 70. E, ao lê-las, senti-me, se não culpado, pelo menos irritado comigo mesmo. É que, no alegre caos em que nos deixávamos perder, não fui capaz de ver o seu desejo mais pungente. E, no entanto, quantas vezes nestas cartas não era exactamente essa a questão! Pintar, desenhar, era o que o fazia feliz. Mas nunca afirma poder dedicar-se exclusivamente a isso. Os ideais políticos da nossa juventude não o permitiam. No entanto o caminho estava aberto: galeristas e coleccionadores interessavam-se pelo seu trabalho, interesse que o João só tinha então em conta do ponto de vista da subsistência.

Exaspera-me tentar hoje conquistar tudo o que foi então adiado. Na verdade o conflito começa na adolescência. João quer entrar na faculdade de Belas-Artes de Lisboa contra a vontade do pai que prefere vê-lo a estudar engenharia naval. Não seguirá nenhum dos caminhos. Depois de um ano na Faculdade de Direito, foge aos dezoito anos da ditadura salazarista, pedindo asilo político na Bélgica onde começa uma nova história. A sua existência torna-se rica, generosa e inventiva. E chega agora a hora de, sem reservas, desfrutar dos pincéis desfrutando do seu talento em plenitude.

Foi ele mesmo quem compreendeu que essa hora chegara, e fico contente por isso. A reviravolta deu-se em Timor, onde passou dois anos de 2005 a 2007. Nesta ilha de forma estranhamente parecida com a de um crocodilo, apaixonou-se pelas lendas locais e pela relação intensa que os Timorenses mantêm com a figura do crocodilo. Resultou daí uma série de pinturas de cores explosivas onde o homem e o sáurio se cruzam como se fossem um centauro invertido.

Assim como em Picasso com o encontro do homem com o touro – pensando em particular nos quadros que dizem respeito ao Minotauro – o encontro do homem com o crocodilo de João de Azevedo tem uma natureza fortemente erótica. Inquietante, também: haverá figura mais evocativa da castração que o crocodilo? Perguntem ao capitão Hook que pensa ele disto.
Mas para os falantes a castração está no coração da economia do desejo. No seu seminário “A relação do objecto”, Jacques Lacan evoca o crocodilo para ilustrar a alegria maternal devoradora, e do falo faz um bastão que se posiciona entre os dois maxilares não deixando que se fechem. Não sei o que os timorenses pensariam desta analogia!

Em Moçambique onde o João trabalhou onze anos, um pintor conhecido tem o nome de Malangatana Ngwenya, que significa Malangatana Crocodilo. Em Timor, ele torna-se João Crocodilo!
Yves Depelsenaire, psicanalista da École de la Cause Freudienne (ECF), crítico de arte e autor de “Le Musée Imaginaire Lacanien”, (Lettre Volée, Bruxelas, 2009




O crocodilo que se fez ilha

Nunca tinha chovido tanto e de uma só vez naquelas paragens. As águas subiram, inundaram a terra, aproximaram-se dos céus onde deixaram sementes de Caleic, germinando trepadeiras, amarrando o mar e a terra ao infinito. Foi o tempo em que tudo estava ligado, o universo em gestação. Os seres misturavam-se e percorriam lugares outrora restritos apenas a alguns. A água fizera o que os homens alguma vez ousaram, diluindo as fronteiras terrestres. Ninguém estava classificado consoante os locais onde habitava ou de acordo com os seres que digeria.No fim da estação das chuvas, quando as águas começaram a secar, todos os animais, movidos pelo instinto de sobrevivência foram recuando para os seus anteriores nichos. Os pequenos crocodilos, buliçosos e irrequietos, sentindo que o mar se encurtava cada vez mais, foram deixando os locais por onde tinham andado em busca de alimentação.Mas aquele velho crocodilo, que nunca tinha feito incursões para além das águas paradas, onde esperava os incautos que passavam, mostrava-se renitente em abandonar aquele recanto da terra onde passavam todos os animais da terra inclusivé o homem, o mais erecto de todos e nem sempre o mais correcto. A prole bem tentou demovê-lo dessa teimosia. Ele já não queria mais regressar para o seu mar. Por mais que insistissem, dizendo que em breve, com a seca, morreria de calor e com fome, tencionava ficar. Dizia ser a natureza o seu melhor aliado, que com ele sempre fora benevolente. Mais do que os da sua espécie que se devoram a si mesmos. Com tal argumento convenceu-os a irem-se embora. O clã entendeu a sua atitude como sendo sinal da sua resignação ao fim próximo. Há um momento único no tempo de cada um para decidir a forma mais digna de morrer. Um grande sáurio arrasta-se no chão mas nunca no tempo. Os pequenos choraram lágrimas de crocodilo pelo fim do progenitor. Como não estava mais nenhum animal presente, eram genuínas as lágrimas choradas. Arrastaram-se para o mar e o velho crocodilo foi ficando cada vez mais distante e abandonado. O acaso fez com que tivesse passado por ali uma menina em busca dos pais, provavelmente engolidos pelo mar. E vendo o velho crocodilo desfeito em lágrimas, e sem distinguir o falso do verdadeiro, aproximou-se do moribundo e perguntou-lhe se precisava de ajuda:_Leva-me até ao mar. Prometo entregar-te aos teus pais!Ela já não pensou em outra coisa se não pô-lo a salvo._A vida de quem quer que seja deveria ser tido em conta para além dos seu múltiplos actos, nefastos ou providenciais! - pensou. Um pensamento grande de mais para as suas pequenas forças. Havia uma desproporção entre o que podiam os seus braços e o peso do colosso moribundo. Os olhos do crocodilo já não choravam. A menina foi buscar as cordas da trepadeira e enrolou-as ao longo do corpo daquele que personificava o horror sobrenatural. Tentou puxar a ponta da corda mas nem um passo deu adiante. Foi pedir ajuda aos outros animais, mas foi o macaco quem se apressou a responder:_Que morra aquele que tanto mal nos fez!Assustou-se com a violenta resposta, mas não desistiu de procurar ajuda. Lembrou-se daquele búfalo branco, que tinha domesticado para a ajudar no cultivo do arroz. Quando chegaram ao local, o búfalo franziu os olhos, levantou as sobrancelhas, deu uma cornada no ar soltando espuma branca pelos cantos da boca:_Não, tudo menos isso! Foi ele quem devorou os teus pais!Ela nem vacilou perante tal revelação. Tentou um último argumento, o da morte digna, dizendo que o crocodilo estava velho e cada um deveria morrer no sítio onde vivia. O búfalo condescendeu e só deu pelo engano quando o moribundo, dentro de água, pareceu rejuvenescer. Sentindo-se traído, o búfalo fez o que achava justo: foi-se embora. Voltou a ser bravo, a única condição que lhe garantia respeito e sobrevivência. O crocodilo, vendo o desfecho de uma amizade desfeita, quis recompensar a sua salvadora pela perda de um amigo, dizendo ser ele verdadeiro; não era tão traiçoeiro como a fama das suas lágrimas._Pula para o meu dorso! - disse o crocodilo, com voz paternal. Anoitecera. E, já sem a vigilância de olhos de outros animais e a coberto da distância e da escuridão da noite, que devolvia a cada ser o pior dos seus instintos, ele tencionava comer aquela criança, salgada e temperada pelos ares do mar. Está na natureza do crocodilo comer as suas presas. A menina caíra na armadilha das lágrimas do moribundo, esquecendo-se de que também eram de um crocodilo.Mas as forças do velho sáurio foram-se esgotando na jornada. Não conseguia mover a cauda, nem mesmo uma pata. O corpo que tão bem o tinha servido, na hora em que mais precisava dele, traía-o. Encalhou, no seu trágico destino. Rendido à evidência da morte, quis a grandiosidade. As suas patas alongaram-se e cravaram bem fundo nos corais. O corpo distendeu-se e as placas do dorso ganharam elevação, formando montanhas atapetadas de densas florestas de sândalo. Uma voz surgiu do ainda crocodilo quase terra:_Sou velho e vou morrer. Tu és linda e habitarás este corpo onde foram enterrados os teus pais. Brevemente chegarão os estrangeiros. Uns príncipes em busca da tua beleza, e outros, mercadores do sândalo.Quando ouviu o último suspiro do crocodilo, ela respirou fundo como se quisesse dar à luz, e viu o Sol nascer no mar, iluminando a ilha inteira, finalmente livre do pesadelo da noite traiçoeira. E chamou-lhe Timor.

do original de Luís Cardoso, publicado no suplemento da Revista Visão nº480 de 16.05.02; versão adaptada

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CV João de Azevedo

Nome: DE AZEVEDO, João Manuel Silva Mendonça
Data e lugar de nascimento: 2 Fevereiro 1950, Figueira da Foz, Portugal



- Iniciei a expor na Figueira da Foz, em 1964 – 1965, no Casino e numa Galeria local.

- Fui seleccionado no âmbito do concurso Prémios Estímulo, da Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa (presente na exposição relativa da SNBA, Outubro 1965.

- Fui colaborador do suplemento Juvenil do Diário de Lisboa. Ganhei, então, dois prémios do concurso Fósforo Ferrero (poesia, e artes plásticas, em Maio 1967). Fui fundador do suplemento Juvenil “Onda”, do Jornal semanário Mar Alto, da Figueira da Foz, e colaborei regularmente, nesses anos, essencialmente com poesia, em suplementos juvenis e literários nacionais e em antologias de estudantes (associações, etc).

- Frequentei o 1º ano da Faculdade de Direito de Lisboa (1967-68) e parti para Bruxelas em Setembro de 1968, onde estudei (1968-1972) no então Institut National des Arts et du Spectacle (Teatro e Comunicação)

- Em seguida, residi em Roma, Itália, até 1975, onde exerci permanentemente a actividade de pintor. Em Itália participei em várias exposições colectivas e realizei duas exposições individuais.

- Destas últimas destaco (porque possuo documentação suficiente) a exposição realizada no Centro Culturale per l’Informazione Visiva (Fevereiro–Março 1975), apresentado por Sandra Giannatasio.

- Dário Micacchi, crítico entre os mais respeitados na época, escrevia no quotidiano L’Unitá, a propósito dessa exposição
[1]:

“ Il portoghese João de Azevedo è nato nel 1950 a Figueira da Foz, e vive da alcuni anni in Itália dove há trovato, in relazione alla sinistra artística italiana, quelle condizioni per cercare ed esprimersi che in terra sua gli erano negate, come a tanti altri giovani latino-americani, spagnoli, greci, turchi, nord-mericani anche.
Ora che così straordinari rivolgimenti sono avviati in Portogallo, questo giovane dimostra di avere fatto la sua parte, almeno per quel che un pittore può. Non conosco la situazione attuale dell’arte portoghese per illustrare nel modo giusto la sua ricerca. La sua cultura sembra complessa, fatta di caratteri nazionali fusi con certi caratteri del fantastico profondo di un Klee, del brutalismo di un Dubuffet, della violenza del momento dada di Dix e Grosz; ma questi caratteri colti si direbbero riportati al dolore e all’animismo delle maschere nere angolane o della pittura del volto e del corpo.
Due motivi figurati in tempere e in pitture con intaglio su tavola: l’uomo strozzato dalla garrotta, una figura alata, tra demonio e angelo, che viene in primo piano da profondità abissali. La tecnica combina colore, incisione del legno, acidatura a mordere, e rende assai bene la sofferenza e la violenza sia dell’uomo torturato sia della nascita di un possibile angelo, uomo alato, dall’orrendo e dal demoniaco. La crudele deformazione dell’anatomia è straziante ma sembra che la bestialità generi il suo contrario. Indementicabile il demonio-angelo nei cui occhi nascono due pupille a falce e martello”.

- De regresso a Portugal no verão de 1975 participei, até Outubro de 1976, como animador cultural em apoio às lutas de camponeses sem terra e em apoio a embriões de cooperativas agrícolas.

- Nesse verão realizei também a capa para o disco “Com as minhas Tamanquinhas” de José Afonso:


- Ainda em Portugal, entre Outubro de 1976 e Fevereiro de 1977, realizei a cenografia e figurinos do espectáculo “Treino do campeão antes da corrida”, no Teatro da Cornucópia, com encenação de José Osório Mateus.

- Parti para Moçambique em Fevereiro de 1977, para trabalhar como assistente da Universidade Eduardo Mondlane (1977-1981), ali exercendo o cargo de director-adjunto do Centro de Estudos de Comunicação. Ainda em Moçambique, para o Ministério da Agricultura, trabalhei num projecto de desenvolvimento cooperativo (1981 – 1984) e com responsabilidades pedagógicas num centro de Formação Agrária e de Desenvolvimento Rural (1984-1988).

- Regressei a Itália em 1988, onde permaneci até 1992, como consultor da Liga Nacional das Cooperativas e Mutualidades italiana (LNCM), assim como da FAO, FIDA e outras instituições internacionais. Com essas instituições internacionais trabalhei em múltiplos países africanos e na Palestina.

- Nomeadamente, entre 1992 e 1999, fui Chefe de um projecto da OIT (Organização Internacional do Trabalho), no Níger, centrado sobre a participação das empresas cooperativas na segurança alimentar e no desenvolvimento local, e conselheiro do Coordenador do Programa Nacional de Luta contra a Pobreza desse país, entre 1999 e 2001, para o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

- Regressei a Portugal em 2001, trabalhando até hoje como consultor internacional, nomeadamente para a Comissão Europeia e principalmente como perito de avaliação.

- Exerci, também, em Portugal, entre 2002 e 2005, responsabilidades de acompanhamento e avaliação num projecto de desenvolvimento social, no quadro do programa europeu EQUAL, em favor dos cidadãos/cidadãs mais excluídos e desfavorecidos, em Setúbal e Palmela.

- Residi, mais recentemente, dois anos em Timor-leste (Fevereiro 2005 – Dezembro 2006), por motivos familiares.

- Recomecei a pintar em 2004, tendo episodicamente produzido 7 quadros para o restaurante Sulitânia, no Vimieiro.

- Mas foi em Timor-Leste que trabalhei mais intensivamente. De facto, em 2005-2006, excluindo duas missões em Angola e duas em Cabo Verde, concentrei-me decisivamente na pintura, tendo produzido cerca de 50 peças
[2].


[1] L’Unità, edição de 4 de Março 1975, pág. 9.
[2] Sobre a minha motivação para este “regresso” à pintura, ver o anexo “Alguma apresentação, dos crocos e minha”.









JOÃO DONATO



"Vista parcial da Via Láctea e outros Fragmentos"

Cerâmica e Instalação

*esta mostra está de momento suspensa por motivos imprevistos











A ARCA






torso stonewasre







prato terracota







carapau (o companheiro de luta)





prato stoneware




pássaros



JOÃO DONATO
Nasci em Maputo em 1953.
Depois da independência de Nacional trabalhei cerca de 10 anos no Norte do País, sobretudo em Nampula e Cabo Delgado, ligado ao desenvolvimento rural.
Trabalhei mais de 15 anos com diversas instituições Moçambicanas, ligado às àreas de pesquisa social e de mercado.
Sem qualquer treino formal prévio, inicio-me nas artes cerâmicas em 2002 no Brasil, com a mestre ceramista Cecy Sato.
Em 2005 vou para Londres onde estudo no City & Islington College sob a tutela da prestigiada ceramista Daphne Carnegy.
Actualmente vivo em Londres e trabalho como técnico no Departamento de Cerâmica do City and Islington College.

Exposições

Café com Letras – Brazilia, 2003
City and Islington College – Londres, colectiva dos estudantes de cerâmica, 2006, 2007, 2008
Embaixada do Brazil, Londres – exposição comemorativa do 10º aniversário da CPLP, 2006
Art @ 42 Gallery, Notting Hill Gate, Londres, 2007 (individual)
The Gallery, Stoke Newington, London –Islington Art Society Autumn Exhibition, 2007; Spring and Autumn Exhibitions, 2008, Autumn Exhibition 2010
Galeria do Instituto Camões – CCP, Maputo Mozambique, Dezembro 2008 (individual)
Royal Geographical Society - Mozambique Contemporary View by 8 Leading Artists, 1-5 Junho 2009
53 Works of Art at Mio Dino – colectiva de artistas africanos, Outubro 2009
The Spence Café – Londres, Abril 2010 (individual)






"Lisboa revisitada"

Fotografia de Pedro Soares



No âmbito desta exposição, realizar-se-à uma Palestra proferida pelo Dr José-Augusto França sobre " Monte Oliveti, a minha aldeia",no dia 12 de Fevereiro às 18h30













Paula Cabral - Art Gallery / Café dos ArtistasRua do Século, 1711200 - 434 Lisboa
Tel./Fax: 21 3426014Móvel: 91 236 6519
www.paulacabral-artgallery.com (em construção)
(Junto à Praça de Taxis do Jardim do Príncipe Real)

HORÁRIO: Terça a Sábado das 12h00 às 20h00

paula.cabral.artgallery@gmail.com


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ainda pode ver até 31 de janeiro

Na Paula Cabral Art Gallery
a exposição OS ANJOS DESCERAM À CIDADE

Helena Calvet_instalação


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Paula Cabral -Art Gallery / Café dos Artistas
Rua do Século, 169 -171(ao Jardim do Príncipe Real)
Lisboa
Tel./Fax: 21 3426014
Móvel 91 236 6519
paula.cabral.artgallery@gmail.com
temos mais informação para si

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ARTISTAS/ pag 4 _ Cristina Leiria












Nasce em Lisboa a 25 de Abril de 1946. Vive em Moçambique entre os 2 e os 17 anos.
Forma-se em arquitectura na Escola Superior de Belas Artes em Lisboa e especializa-se em planeamento num curso de pós-graduação, Developement Planning Unit, da University College em Londres; motivada pela influência do ambiente na saúde e bem-estar, aprofunda estudos sobre Feng Shui, em Macau, China e Japão e sobre Electromagnetismo, em França.
Trabalha como arquitecta no Reino Unido, Moçambique, Zimbabwe, África do Sul, Portugal e Macau.
A partir de 1992, paralelamente à arquitectura, retoma a escultura iniciada na adolescência com a criação de protótipos para Elan de Mãe e Presépio Holístico. A maioria das esculturas são concebidas a partir do barro e passadas posteriormente para outras escalas, em diversos materiais especialmente: cristal, bronze, prata, estanho, pedra.
Desde 1995, algumas destas obras, mais de 200 peças únicas e 27 esculturas reproduzidas em série, têm sido editadas em cristal pelo prestigiado Grupo Vista Alegre/Atlantis.
"A sua obra cresce no seio de diversos temas como: a Vida, o Amor, a Família, o Mar, o Divino, … todos unidos por uma invisível linha de coerência universal e expressa em formas depuradas que falam a todos a mesma linguagem feita de amor, equilíbrio e de serenidade. Mas, é em 1999 que a experiência artística, encetada por Cristina Leiria, atinge a absoluta congruência entre os objectivos espirituais, sociais e arquitectónicos, com a concretização do Centro Ecuménico Kun Iam" *Citações do Prof. Fernando António Baptista Pereira.
Neste Centro, em forma de Flor de Lótus, situado numa ilha artificial criada para o efeito no Rio das Pérolas, em Macau, ergue-se a estátua de Kun Iam, (ou Guan Yin), deusa do amor, misericórdia e compaixão, em bronze, com 20.00m de altura.
A sua intervenção na humanização da vida urbana, pela Arte Pública, tem continuado, entre outras, através das seguintes obras:
Kun Iam e Flor de Lótus, em bronze polido, 2.70m, sobre um pequeno lago nos jardins da casa de Macau em Lisboa, 2002. Elan de Mãe, em pedra branco-mar, 3.00m, no Parque Marechal Carmona em Cascais, 2003. Vela ao Vento, em bronze patinado, 12.00m, numa rotunda à entrada de Tavira, 2003. Barco à Vela, em bronze polido, 3.00m, assente numa onda em mármore branco, na Marina de Cascais, 2007.

Av. DAS COMUNIDADES EUROPEIAS, TORRE D2 -2ºA, 2750-660 CASCAIS – PORTUGAL
+351 Tel/Fax 214.865.108 –Telemóvel 918.340.899 – 917.890.748
crisrochlei@gmail.com - www.cristinarochaleiria.com

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Motion Stripes" na Galeria




Equipa de Televisão "Motion Stripes", dirigida por Hugo Gomes, produtora do Programa AFROFAMA da RTP África, com a Cantora e pivot Vânia Oliveira da girls band "Delirium".




O programa foi gravado na nossa Galeria.

Vai para o ar este Sábado, 15 de Fevereiro.




Pintor Luis Camilo Alves com os amigos César Mourão (actor) e Pedro Goulão (Guionista)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

ARTISTAS/ pag 3_ Eduardo Santos Neves

EDUARDO SANTOS NEVES

Lic. em Artes Plásticas – Pintura Escola Superior de Belas Artes Lisboa . Prof. de Artes Visuais



..., autor cuja disponibilidade se avalia melhor nas duas últimas décadas, trabalha assim uma espécie de ensaio sobre a natureza da pintura, quer em termos de representação, quer no confronto entre registos e citações. Os seus quadros são estruturados a partir do legítimo recurso a representações de outras pinturas, fragmentos delas em novos enquadramentos, mantos escarlate das indumentárias pós-cristãs, valores plásticos arrebatados a diversos contextos e servindo de cenário à reflexão a preto e branco de cenas, rostos, pedaços do mundo vivido, por vezes sugerindo a verosimilhança fotográfica da primeira metade do século XX.
Toda esta metodologia que desconstrói referências importantes da pintura representativa para as reconstruir em inusitados recursos de geminação, assim e de modo semelhante, vem colocar em termos de investigação a mecânica e a cultura do processo visual, mas abre caminhos inseridos, congregados, por vezes irónicos ou verdadeiramente contundentes, em que se desdobram ou concentram incisões críticas sobre as falsas magias de mundos litúrgicos, alusões ao poder fantasmático que tantas vezes tutelou torturas inquisitoriais, poder após poder, a arte como testemunho reelaborado da consciência crítica. Os símbolos do martírio que a religião aponta a ocidente (a oriente também, afinal) ligam-nos à sobrevivência intencional da representação e à consciência dos mártires no século XX, apesar das alienações da mera proposição estética, tantos genocídios entretanto.

ROCHA DE SOUSA

PINTURA NA PINTURA_por Rocha de Sousa

Vejo em redor o espectáculo da pintura povoado de figuras sobrepostas, conotadas com os personagens de outras memórias ou de outras representações, e tenho a sensação de que é possível desmontar as falsas colagens, descobrindo possíveis sentidos na complexa alegoria onde a memória desempenha um papel importante, a par da dolorosa convocação do ser no acto de ver. Eduardo Neves, autor cuja disponibilidade se avalia melhor nas duas últimas décadas, trabalha assim uma espécie de ensaio sobre a natureza da pintura, quer em termos de representação, quer no confronto entre registos e citações. Os seus quadros são estruturados a partir do legítimo recurso a representações de outras pinturas, fragmentos delas em novos enquadramentos, mantos escarlate das indumentárias pós-cristãs, valores plásticos arrebatados a diversos contextos e servindo de cenário à reflexão a preto e branco de cenas, rostos, pedaços do mundo vivido, por vezes sugerindo a verosimilhança fotográfica da primeira metade do século XX. E os políticos, os eventuais gestores que nos sobram a cada esquina. Falamos assim de quadros sobre quadros, mistura por planos inseridos também e na qual se definem anatomias humanas, alinhamentos parietais de senhores enchapelados, com bengala, juntos, repetidos e vandalizados na horizontal por ocultações a vermelho, trincha da revolta que parece assumir desagravos pela morte do corpo nu, deitado no chão, primeiro plano perto de nós, observadores, procurando descodificar a natureza dos sinais. O homem, só visível do tronco aos tornozelos, modelado em cinzas, aparece deitado ao comprido e sobre um resto de pano branco enrodilhado por baixo da cintura. Dir-se-á que, aquém ou além dos senhores em grupos, porventura figuras de um republicanismo tormentoso, nos encontramos diante da hipotética convocação do ser em Cristo tumular, imagem dolorosa pela aparente impossibilidade da ressurreição.


Há, em todo este percurso, uma certa visitação da História e da pintura, aliás pela intencional escolha de formações clássicas, pela concentração em fragmentos ampliados de obras de Velásquez servindo de fundo ou contexto ao exercício problematizado da visão. Visão e sua mobilidade em múltiplos planos e tempos, contrastes do preto e branco, citações dilaceradas ou feridas por posteriores rascunhos, figuras ilusórias à frente e atrás, uma questionação que abarca tanto a geometria do espaço como a obstrução deste pela dilatação de panejamentos, do próprio rosto de algum personagem pretérito, por uma das «meninas» do quadro de Velásquez, ela a espreitar os olhos do pintor e as suas mãos que seguram o espelho mítico onde só resta a desfocada imagem do observador manipulado e não as vagas silhuetas do rei e da rainha. Toda esta metodologia que desconstrói referências importantes da pintura representativa para as reconstruir em inusitados recursos de geminação, assim e de modo semelhante, vem colocar em termos de investigação a mecânica e a cultura do processo visual, mas abre caminhos inseridos, congregados, por vezes irónicos ou verdadeiramente contundentes, em que se desdobram ou concentram incisões críticas sobre as falsas magias de mundos litúrgicos, alusões ao poder fantasmático que tantas vezes tutelou torturas inquisitoriais, poder após poder, a arte como testemunho reelaborado da consciência crítica. Os símbolos do martírio que a religião aponta a ocidente (a oriente também, afinal) ligam-nos à sobrevivência intencional da representação e à consciência dos mártires no século XX, apesar das alienações da mera proposição estética, tantos genocídios entretanto.














Eduardo Santos Neves
Calç. do Monte 33 c/v esq. 1170-250 Lisboa 21.8867329

sábado, 8 de janeiro de 2011

Lançamento do livro RUAS ERMAS e exposição de fotografia de José Morais Arnaud

José Arnaud






Lançamento do Livro "Ruas Ermas" de Eduardo Pinheiro, Pedro Ferreira, Rosário Salema Garção, com Fotografias de José Morais Arnaud

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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIAS DE JOSÉ MORAIS ARNAUD

Embora tenha nascido e vivido a maior parte da sua vida em Lisboa, é em Évora que se encontram as suas raízes mais profundas. Foi em Évora que nasceram e cresceram sua Mãe e seu Avô materno, a cuja memória dedica esta pequena exposição. Foi também na região de Évora que iniciou as suas pesquisas arqueológicas, já lá vão quase quatro décadas.

Licenciado em História pela Universidade de Lisboa, especializou-se em Arqueologia na Universidade de Cambridge. Foi docente universitário, técnico superior do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), fundador do Instituto Português de Arqueologia (IPA) e assessor da direcção do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAR) e do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), dedicando-se desde 2008 à consultoria arqueológica e patrimonial. É ainda Presidente da Direcção da Associação dos Arqueólogos Portugueses e Director do Museu Arqueológico do Carmo desde 1995, tendo coordenado a sua completa remodelação, no ano 2000, e a edição do catálogo integral das colecções, em 2005.

Como arqueólogo, a fotografia documental foi desde muito cedo um instrumento de trabalho quotidiano, tendo inúmeras fotografias de sua autoria na meia centena de trabalhos que publicou. Por isso aceitou o desafio que lhe foi lançado de documentar uma outra Évora, mais singela, familiar ao habitante, mas cuja beleza subtil escapa ao turista mais apressado.

Além de meia centena de igrejas e capelas, e de monumentos notáveis como o templo romano, a catedral ou a capela dos ossos, locais de visita obrigatória para os turistas, existe uma outra Évora, em cujas ruas, travessas e becos se encontram lado a lado majestosos edifícios de caracter senhorial e singelas habitações térreas, notáveis exemplares da arquitectura vernácula, com as suas grandes chaminés, telhados em telha de canudo, e cuja idade se poderia calcular, como a das árvores, pelas sucessivas camadas anuais de cal, que dão a esta cidade uma luminosidade e um carácter muito particular.

Numa altura em há quem pretenda pintá-las com tinta de óleo, porque seria mais durável e económico, e em substituir as suas graníticas calçadas por marmóreos pavimentos, porque seria mais confortável, importa impedir a todo o custo a sua descaracterização, chamando a atenção para a sua singela beleza.

Importa ainda lembrar que a Évora de paredes imaculadamente brancas, com barras de um monótono amarelo regulamentar, é um artefacto relativamente recente, que esconde uma arquitectura oitocentista profusamente decorada com frisos de motivos geométricos, pintados a ocre amarelo, cinzento ou azul escuro, elaborados florões em estuque, e mesmo com vastas superfícies com padrões coloridos, como na Rua de Avis, que importa também recuperar, preservar e valorizar, para que Évora possa continuar a ocupar um lugar único entre as cidades portuguesas, e a merecer a sua classificação pela UNESCO como Património da Humanidade.











Na ocasião, ouvimos poesia de Florbela Espanca

declamada por ISABEL WOLMAR.




Paula Cabral - Art Gallery / Café dos Artistas
Rua do Século, 169 - 171 (ao Jardim do Príncipe Real)
Lisboa

Tel./Fax: 21 3426014
Móvel 91 236 6519
paula.cabral.artgallery@gmail.com


Malangatana _Homenagem




A Malangatana"Artista da Paz"
a nossa sentida homenagem pelo ARTISTA e pelo HOMEM QUE SOU SER


Nasceu em Matalana, em 1936. Estudou na Escola da Missão Suiça de Matalana e na Escola da Missão Católica de Ntsindya, em Bulaze. Depois de obter o diploma da 3ª classe rudimentar, vai para Lourenço Marques (Maputo). Em 1958 frequentou o Núcleo de Arte onde conhece o pintor Zé Júlio, que o apoia. Em 1961 efectou a sua primeira exposição individual. Em 1971 foi bolseiro da Gulbekian em gravura e cerâmica. Recebe a Medalha Nachingwea pela contribuição dada à cultura Moçambicana. Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

http://www.portugal-linha.pt/arte/malangat/



A directora-geral da UNESCO, Irina Bokova, expressou a sua “profunda tristeza” pela morte de Malangatana, pintor moçambicano e “Artista da UNESCO para a Paz”.Bokova afirmou que “com a morte de Malangatana Valente Ngwenya, o mundo da arte contemporânea perdeu um de seus melhores representantes. Não foi só um grande artista, mas também um ardoroso defensor da paz”.Malangatana nasceu em 1936, na aldeia de Matalana, sul de Moçambique. Pintor conhecido pelas suas pinturas e murais de grandes multidões coloridas, mas também ceramista, gravador, escultor e poeta, Malangatana foi encarregado após a independência de Moçambique, em 1975, de produzir obras para edifícios públicos, incluindo os murais do Museu de História Natural e do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane.Malangatana pintou também um mural em Maputo durante a Conferência da UNESCO sobre Cultura de Paz e Governação (Setembro 1997). No mesmo ano foi nomeado “Artista da UNESCO para a Paz” e doou uma das suas obras para a organização, intitulada “Juventude e Paz”, em exposição na sede da UNESCO.

sábado, 1 de janeiro de 2011

ARTISTAS/pag 2 _Helena Lousinha


excerto do catálogo da exposição "Ailleurs"





Sombra sobre sombra, pele sobre pele

Entre a morte e o sonho existe um espaço ou talvez um gesto, desses gestos fugidíos onde se esconde a singularidade do sentido, onde se dissimula a luz que dá vida a todo o resto. É nesta cisura entre o visível e o invisível, entre aparência e revelação que nos encontramos.
Seria incapaz de falar desta pintura sob um plano que seja rigorosamente iconográfico, não nos esqueçamos que a pintura não é uma simples criação de imagens, é antes de tudo uma prática. E portanto, a pintura não é um instantâneo, o tempo da pintura não se conta, não se corta, não se regula, está simplesmente contido nela. A pintura é principalmente uma história de camadas de cor que se depositam umas após as outras. A pintora sabe que as primeiras camadas têm tendência a querer voltar a superfície, sabe que estas epidermes são também profundidade da memória. A luz que se encontra não é a reprodução factícia da luz física, mas algo que vem das profundezas dos primeiros estratos, a luz que se encontra nestes quadros é memória, sempre, uma opacidade com a transparência do tempo. Porque a memória é opaca apesar de irreal.
Helena não trabalha com luz mas com sombra. Talvez seja significativo o facto de ela viver numa terra onde a vida esteja situada na sombra, à sombra; e vi sua pintura escurecer desde que ela vive no Alentejo terra de luz, de luz em excesso, de tanta luz que esta acaba por ser uma superficie virgem onde tudo resta por fazer. Talvez a sua pintura se aparenta a este gesto de aplicar um véu sobre a nudez, a nudez árida das coisas. O pequeno pudor de um véu epidérmico. As escâncaras não se consegue ver nada.
A pintura da Helena escapa ao mundo da imagem e portanto da velocidade; quero dizer que aqui o tempo é pura duração, que aqui se encontra o potencial da sua pintura para abrandar o tempo para crucificá-lo e recriá-lo outra vez em varios tempos que se sobrepoêm que lutam constantemente entre eles. Vários tempos/epidermes nos quais se ouve um esfregar por vezes suave como o sussuro de uma folha que cai, por vezes rugoso como a terra gretada de Agosto.
Trata-se aqui de aflorar na tela, de fazer subir até a palpação algo de profundamente enraizado. Talvez esse algo seja da ordem da ausência, de uma ausência subterrânea donde esses corpos nascidos sem cordão umbilical parecem provir, esses corpos que lentamente dolorosamente regressam á posição fetal, esses corpos que por vezes nem conseguem emergir por ficar atrás. Atrás de uma pintura de Helena Lousinha há sempre um corpo à espera.
Helena relembra-nos sempre e sempre que somos feitos de uma coisa chamada «sentir» e que, no seguimento desta aproximação sensitiva, a visão que nos é oferecida não pode ser outra coisa do que uma imanência e de maneira nenhuma uma imagem ou um signo. Como se para cada camada de tinta ela tirasse uma do mundo, como se a pintura pre-existisse a tudo e que nos bastasse um olhar paciente.
A aproximação pictural da realidade da artista não se coloca unicamente na esfera do «visual». Como se o real fosse uma ferida que ela tentasse cicatrizar aplicando algo da sua própria pele; é com este lento e doloroso trabalho que ela nos oferece. Leva o seu tempo impregnar-se dessas pinturas como leva tempo acariciar a pele do corpo amado com os seus rastos, os seus desgastes, os seus sinais, as suas feridas. E assim como esta pele que pensamos conhecer por dormir com ela, por fazer amor com ela, esta pintura é um desafio para o nosso olhar, de um lado pensamos conhecê-la, e por outro lado não conseguimos abrí-la, subir até a sua origem, desfazer o enigma.
Jean Pierre Santos Martins
Junho de 1996
Do catálogo da exposição na Galeria Gymnásio em Setembro de 1996
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Helena Lousinha de nacionalidade portuguesa, nasceu em 1952 em Casablanca (Marrocos), vive e trabalha no Alentejo – Portugal desde 1986.
1977 / 1978 - Curso de formação artística, na S.N.B.A. - Lisboa.
1980 / 1986 - Formação em pintura no AR.CO (Centro de Arte e Comunicação) Lisboa.
Cursos intensivos de: Historia da Arte
A Essência – Entidade de Cor
Técnica de Fresco
Exposições colectivas – selecção:
1983: I Bienal Arte jovem Chaves. 1984: IV. Bienal Vila Nova de Cerveira; Sociedade Nacional Belas Artes, Lisboa “10 Anos depois do 25 Abril”. 1985: “Jovens pintores” S. Lourenço – Almancil; II Bienal Arte jovem Chaves; “Pequeno formato” Estoril. 1986:III Exposição de Artes Plásticas – Fundação Calouste Gulbenkian. 1987: II Exposição de Arte Ibérica – Campo Maior e Cáceres; “Jogos” Galeria Arcada – Estoril;” Pequeno Formato” Estoril. 1988: “Arte jovem portuguesa” Mindelo – Cabo Verde; “5 Mulheres do Alentejo” S. Lourenço – Almancil. 1989: “Arte contemporânea” Col. Volker e Marie Huber – Loulé. 1990:” Suporte papel II – Figurativo” Galeria Arcada – Estoril; Exposição prémio João Hogan – Lisboa; Bienal Lagos – Lisboa / Lagos; Galeria de S. Bento – Lisboa. 1992: Dia da Mulher – Galeria Municipal de Almada; Convento de S. Francisco – Mértola;” Port. Arte” Feira de Arte – Portimão; Galeria Veredas – Sintra. 1993: Galeria de Arte do Conde Redondo – Lisboa. 1995: “Não às Naturezas Mortas” Amnistia Internacional – Mitra – Lisboa. 1997: Convento do Espírito Santo – Loulé; Marca – Madeira. 1998: Arte de Portugal na Alemanha – Meebusch – Dusseldorf. 1999: Galeria Municipal – Fitares – Sintra;”Arte contemporânea Anos 90” Galeria Novo Século – Lisboa; Feira Arte Contemporânea Lisboa – stand Galeria Novo Século. 2000:” ARCO” Madrid – stand Galeria Novo Século; Werkraum Godula Buchholz – Denklingen – Alemanha. 2001: “Iniciar” Galeria EDIA – Beja;” 9 Artistas” Mouraria Galeria de Arte – Funchal; VII Bienal Artes Plasticas – Montijo; Modulo 2´5 x 2´5 – Beja. 2004: “Homenagem a Wenceslau de Morais”- Gymnásio- Lisboa.
Exposições individuais
1987 - “Paixão pinturas” – Clube 50-Lisboa
- Galeria Arcada – Estoril
1989- Galeria Triângulo 48 – Lisboa
1991 - Galeria Triângulo 48 - Lisboa
1992 - Galeria Municipal de Castro Verde
- Galeria Veredas – Sintra
1995 - “O lugar secreto, Minas de S. Domingos” – Galeria Escudeiros Beja
1996 - Galeria Municipal Gymnásio – Lisboa
1999 - “Emergências”- Galeria Novo Século - Lisboa
2000 - Forum Municipal - Castro Verde
-“Je dors mais mon coeur veille” – Galeria Novo Seculo-Lisboa
2005 -“Presenças” – Forum Municipal Castro Verde
2006-2008 -“Olhares sobre um lugar - Mina São Domingos” - Montemor-o-Novo,
Alvito, Castro Verde, Almodôvar, Serpa, Sines, Beja, Estremoz, São
Domingos, Sacavém.